domingo, 3 de abril de 2011

A ausência do aperto no peito e a leveza do simples viver em paz

Depois de muita reclamação e pedidos desesperados por um post, misturados a minha vontade de relatar o que anda se passando pela minha vida nesses tempos, vamos ao tema de hoje.

Vocês devem estar se perguntando o por que deste tema ao invés de relatos sobre o sudeste da Ásia, por onde estive nos últimos quase 2 meses, e eu explico o insight que me levou a pensar sobre este assunto e a me identificar com ele.

Há dois dias atrás estava na minha aula de mergulho nas ilhas Gili – em Lombok, um dos distritos da Indonésia mais próximos de Bali, paraíso perdido, água turquesa, areia branquinha, corais por todo lado e uma vibração diferente da que tinha encontrado até então pelo caminho - quando me dei conta da quantidade de estrangeiros, principalmente italianos (incluindo meu instrutor de mergulho) que haviam abandonado suas vidas nos seus países de origem e resolvido adotar Gili Trawangan como seu lar. 


Gili Trawangan e ao fundo as montanhas de Lombok, Indonésia


A beleza da ilha me mostrava claramente um dos motivos daquela gente ter escolhido viver ali e conversando com meu instrutor, tive um dos relatos mais importantes sobre a escolha por uma vida simples e de plena paz. Eu perguntei a ele o que ele sentia vivendo em Gili e ele me respondeu o seguinte:
          “Sabe aquela sensação de aperto no peito, uma coisa meio estranha que a gente sente quando acorda de manhã e se dá conta que tem um monte de problemas pra resolver e coisas pra fazer, enfrentar trânsito, encontrar gente com pressa e agressividade no caminho, o que nos contamina e nos deixa ansiosos e tensos... aqui não existe isso! Aqui eu não morro de alegria porque é sexta-feira e não morro de tristeza e angústia porque é segunda-feira. Aqui toda segunda-feira é muito bem-vinda.”

Caramba, como esse cara tem razão... me peguei pensando na minha vida nesse exato momento, na minha escolha em não ter notícia alguma do mundo desde o dia em que saí de casa e da sensação de que não preciso de nada disso pra viver. Na sensação de não ter assistido televisão quase 100% do tempo e de saber que o Jornal Nacional não me interessa mais. Não quero ver e ouvir desgraças que vendem publicidade e me enchem de merda na cabeça e culpa por existir. Quem foi que falou que preciso disso e eu acreditei por tanto tempo?

Monte Agung - vulcão mais sagrado de Bali. Poder e energia.


Na minha vida atual, essa que estou escolhendo pra mim, acordo de manhã e percebo como estão meu corpo e minha mente antes de decidir quais serão as atividades do dia. Se estou perto do meu ciclo menstrual, mais ansiosa, procuro aquietar a mente. Se estou cheia de energia e com a mente tranquila, procuro novos desafios.  Assim vivo dia após dia. Sem morrer de ansiedade porque daqui a 2 ou 3 dias vou encontrar meu amor em Delhi, quando ainda estou na Indonésia e a viagem está me oferecendo tantas oportunidades de aprendizado e deleite do meu eu. Venho aproveitando ao máximo cada novo dia em cada novo país, cidade, vilarejo. Isso acontece de forma tranquila e sem muito raciocinar, porque aquela sensação de aperto no peito que meu instrutor de mergulho tão sabiamente me fez pensar a respeito, não me persegue mais. Felizmente.


Nascer do sol às 5:30 da manhã em Pu Chi Fa, norte da Tailândia.




O fato de estar tão em paz e com a mente tranquila abre portas inimagináveis, permite nossa intuição a perceber as oportunidades que surgem a cada momento e a agarrá-las de forma única. Não é a toa que por onde tenho passado as portas tem se aberto e as pessoas tem se aproximado sem más intenções, simplesmente com a curiosidade da troca com uma pessoa tão diferente e de tão longe. Tenho conhecido pessoas incríveis dos mais diversos tipos:  pobres, ricas, felizes, iluminadas, tristes mas esperançosas, sorridentes, tímidas, gentis, mais ríspidas, confiáveis, nem tanto... e todas elas me marcaram de alguma maneira. Me fizeram enxergar que as diferenças movem montanhas e nos fazem pessoas melhores. O respeito ao desconhecido, ao invés da crítica ao que não praticamos abre horizontes e nos transforma em pessoas melhores e mais tolerantes. 
Vamos quebrar paradigmas minha gente! 
Que tal experimentar uma coisa nova no seu dia, diferente daquilo que você tem feito ao longo dos anos? 
Que tal se perceber falando mal de alguém e transformar isso numa observação do quão curiosa é aquela pessoa por ter escolhas tão diferentes das suas? 
Vamos tentar? De coração aberto?


Filha de pescador na Halong Bay, Vietnã. Nos apaixonamos!

... é vou voltar pra casa diferente. Espero que diferente o suficiente pra me manter sem o aperto no peito que tanto aflige a boa parte desse mundo que subestima seu real valor. Não quero mais pra mim os contratos e formalidades que faziam parte da minha vida profissional e tampouco a velocidade do meu dia. Quero paz pra comer sentindo o gosto e o cheiro da minha comida. Quero alegria pra sorrir de manhã e agradecer pelo fato de estar viva e saudável. Quero ser capaz de ajudar meus amigos e todos aqueles que me solicitarem a superar suas dificuldades e a acreditar que o mundo pode dar certo. Com a nossa pura e linda sintonia.


Bali spirit festival - pessoas em sintonia e boas vibrações
           
Recém chegada à Índia, esperando pelo encontro com meu amor, de coração aberto pra viver intensamente tudo que meu destino mandar.

Muita luz, Camila


Por do sol em Cat Ba Island, Vietnã




                                                             

sexta-feira, 11 de março de 2011

Mergulho interior

Pausa na atualização sobre os países por onde passo pra escrever sobre a experiência mais profunda da minha vida:

Templo principal onde fazíamos meditação em grupo
(mulheres à direita, homens à esquerda)

De volta ao mundo de fora. Sobrevivi a mim mesma. Prazer em conhecerme. Desconstrução e reconstrução. Meditação através da observação da respiração profunda que esvazia a mente dos pensamentos conturbados "monkey mind" e a preenche de amor e bondade emanados ao universo. Experiência mais difícil da minha vida. No entanto, a mais profunda. Dormindo em cama de concreto coberta com esteira e travesseiro de madeira. Acordando às 4h da manhã todos os dias com badalo do sino e indo dormir às 21:30h. Duas refeições vegetarianas por dia, sopa de arroz de manhã e comida apimentada no almoço. Roupas que cobriam os joelhos e ombros num calor de 40 graus sem poder nadar.  Água potável em temperatura natural no cantil. Banho enrolada num sarong me molhando baldinho a baldinho. Foco na respiração e na atenção a cada mínimo ato do corpo. Venci dores fortes em várias partes do corpo (costas, cabeça, bunda, joelhos, pés dormentes), náusea, fraqueza, pressão baixa, desânimo, revolta, saudade, vontade de largar aquela porra toda e voltar pro meu conforto, mas isso seria muito estúpido da minha parte, felizmente preferi não dar ouvidos ao lado ignorante do meu cérebro que gritava alto. Persisti e lutei muito pra me manter sã, respirei profundamente observando cada detalhe do ar que entrava e saía trazendo vida pra dentro de mim. Me conectei com a natureza e respeitei cada mínimo ser como nunca antes tive a sabedoria de respeitar. Vivi o agora e o hoje como nunca havia realmente experimentado, apenas por palavras. Respeitei os pensamentos que surgiam volta e meia com imagens das pessoas amadas e cenas vividas no passado em momentos variados da vida e as músicas que iam e vinham no mais variado repertório, simplesmente deixando que eles fossem embora sem me pressionar ou culpar na direção da meditação, observando o que eles significavam para mim, voltando ao foco na respiração logo em seguida, tentando fazer tudo isso da forma mais relaxada possível, quando possível.

Lago onde praticávamos meditação caminhando. De dia sozinhos e à noite
em grupo em movimentos circulares sob a lua e as estrelas

Saí desses 11 dias em silêncio absoluto com a sensação que não existem mais máscaras, apenas minha simples e abençoada existência. O segredo da felicidade reside num lugar tão próximo e ao mesmo tempo tão distante de nós. Nosso templo pessoal, uma mistura do nosso corpo e da nossa mente conectados pelo poder da respiração, precisa de cuidados e de atenção. O desafio agora é a manutenção da mente sã através de persistência dia a dia, momento a momento.

Que minha meditação tenha alcançado os corações de todos vocês. A luta continua agora pra vencer o retorno à velocidade e agressividade da selva. "Mindfulness with breathing" (Anapanasati meditation) ensinada por monges discípulos de Ajahn Buddhadasa, monge seguidor de  Buddha, fundador de Suan Mokkh, monastério onde passei os 11 últimos dias da minha vida terrena e primeiros dias da minha vida de elevação espiritual.

Do sul da Tailândia, com muito amor.


Monge que praticava Pali chanting (canto sagrado
budista) com nosso grupo. Exemplo de bondade e amor.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Nova Zelândia, terra das fortes emoções!

Milford Sound - Fiordland


Meus queridos seguidores quase órfãos, resolvi tomar jeito e voltar a escrever.

Vamos lá. Parei no capítulo Nova Zelândia. Me arrepio só de voltar lá na memória e lembrar das sensações que senti abraçada pela natureza daquele país. Da chegada no avião aos diversos passeios que fiz, por onde você passa o pensamento é sempre alguma do tipo: “queeeeee iiiiisso... que lugar foooooda....”

Voltando um pouco no tempo, me lembro do meu primeiro dia de viagem, quando ainda não tinha noção de como seria nada. Chegou a rolar um questionamento interno se eu daria conta ou se havia virado uma velha exigente em relação a estar com muita gente, dividir quarto em hostel com molecada farrenta, essas coisas. Não sabia muito bem se meu lado aventureiro de mão cheia ainda estava em alta ou se estava meio adormecido . Eis que descobri que ele estava lá e tenho aprendido muito com isso, principalmente a entender que a liberdade e o desprendimento andam de mãos dadas com a coragem, mas só acontece se você entende que é preciso sair da inércia para viver novas aventuras.

A sensação de desconforto inicial com a diferença de fuso foi enorme e fiquei meio tonta, mexida e insegura com o fato de estar muito longe de casa, de vocês e do conforto habitual de ter o controle sobre as coisas. Fiquei horas batendo cabeça com o mochilão, que estava achando enoooorme pra quantidade de coisas que eu acreditava realmente precisar. Tirava uma coisa aqui, colocava outra coisa ali, toda atrapalhada sem saber muito bem como me organizar num espaço tão pequeno e além de tudo cheia de fuso na cabeça exausta e tendo que ensinar meu corpo que eu só poderia ir dormir à noite. Conhecer a cidade, que é bem pequena, mas muito bonita e civilizada, foi a melhor solução que encontrei.

Eis que consegui vencer o primeiro dia e nos dias seguintes acordei confiante e cheia de vontade de explorar aquela belezura toda. Conheci parte do parque nacional de Fiordland, onde fica Milford Sound, um dos lugares mais poderosos energeticamente que já conheci. Uma baía rodeada por montanhas enormes que abrigam vários tipos, tamanhos e formatos de cachoeiras, formadas pelo derretimento de geleiras e pelas constantes chuvas daquela região. Do barco dava pra sentir a imensidão da natureza daquele lugar de tal forma que me emocionei várias vezes. Chorei, gritei, agradeci, vibrei, emanei, rezei, meditei, amei, gargalhei, dancei, fotografei, filmei, me molhei, tomei vento no rosto de braços abertos me sentindo com asas e realmente naquele momento... “mmmmmm” como eu voei alto! Nem sei dizer o tamanho de tudo que me aconteceu ali, só sei que estava repleta de paz, simples e profunda. Aquilo que buscamos constantemente na teoria, mas que esquecemos de viver no dia a dia de nossas vidas por tolice de que existem coisas mais urgentes e importantes a fazer... que bobagem.




Fiz outras coisas muito bacanas lá em Queenstown também! Me taquei do 4o maior bungy do mundo, 134 metros de puro deleite no ar com adrenalina e gritos de milhões de decibéis (bem diferente dos asiáticos que se tacavam sem dar um pio...). O Bruno vai se tacar do 2o do mundo, que fica na África do Sul, muito em breve, 230 m, só perde pro da Suíça, 250m (mais ou menos isso). Subi uma trilha linda e bem pesada (íngreme do início ao fim) que leva ao topo da cidade, onde existe um complexo turístico com restaurantes, vôos duplos, trilhas iradas de mountain bike. Aluguei um Kaiak de 2 lugares com minha amiga sueca de 21 anos e fomos margeando o lago Wakatipu num dia ensolarado, com a água turquesa e limpinha vendo cachoeirinhas no caminho.  O verão da ilha do sul é bem parecido com o nosso inverno do Rio. De dia no sol uns 25o no máximo e à noite sempre um casaquinho pra não congelar.

Nevis Bungy - 134m

Foram muitas as emoções vividas na Nova Zelândia. Terra de gente simpática, altamente civilizada e acostumada a beça com turismo. Não é a toa que conheci tanta gente de vários países procurando emprego temporário, sem data pra voltar pra casa. Gente bem jovem e corajosa.

Me despeço dizendo que um dia todos merecem conhecer essa ilha maravilhosa dos Hobbits! Aliás, em breve começarão lá as gravações do novo filme do mesmo diretor do Senhor dos Anéis, que se chamará “The Hobbit”. Não posso esperar pra olhar aquelas paisagens de novo... mesmo que na telona.

Kia Ora!



terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Começa a jornada a caminho da Nova Zelândia



Nem sei bem como começar a descrever as coisas que estou sentindo. O dia de hoje foi, sem dúvida, repleto de diferentes sensações. Foi interessante observar cada uma delas e a forma com que eu lidei com isso. Uma mistura de coração apertado e lágrimas na despedida do meu amor na porta do aeroporto. Aquele abraço apertado, mais apertado do que é possível normalmente, mistura de até breve e por favor fica comigo. Doido. Depois veio a sensação de estar começando uma coisa absolutamente desconhecida, rumo ao infinito e além.

Entrando um pouquinho mais em detalhes, fundamental quando se fala em amizade, passei uma noite e um dia maravilhosos na companhia da minha querida amiga Carol (e do seu marido James quando ele pode), que moram em LA. Passeamos e conversamos sobre a vida, matamos um pouquinho a saudade. Compramos itens importantes que faltavam pra viagem como bota de hiking, pra subir as montanhas bem equipada, toalha de alta absorção, repelente, etc... A sensação de fechar o mochilão com tudo dentro  e começar a me acostumar com a minha nova "casa ambulante"não teve preço.

Caraca tenho que correr, estão chamando meu vôo e eu ainda estou aqui escrevendo...

Detalhe importante: saio daqui hoje, dia 8 de fevereiro de 2011 e só chego na Nova Zelândia no dia 10. É isso mesmo, o dia 9 ficará no vácuo do infinito. Em algum lugar que o homem não pode explicar. Enquanto isso eu vou curtindo o fato de que vou ficar sempre um dia mais nova na minha vida.

Recado especial pro meu amor: A sua companhia durante esses dias me fez te amar e respeitar ainda mais. Além de me preencher de forças pra seguir a diante com meu sonho. Nossa parceria é incrível! Chegue bem de volta à nossa casinha. Te amo muito! Demais da conta!

Um beijo nos corações e até a terra do Senhor dos Anéis!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Numa volta ao mundo, segunda-feira pra mim é sábado





Bruno soltou essa frase e eu tenho que concordar, não foi nem um pouco simples e fácil organizar todos os detalhes dessa viagem (comento mais a fundo sobre este tema num futuro post, numa espera de aeroporto) e por isso nesse momento estou pouco conectada ao blog e aproveitando ao máximo todos os detalhes de estar na montanha - Mammoth Lakes, Califórnia - depois de escala em Dallas e quase perdermos o vôo de conexão porque até monorail (trenzinho sinistramente super sônico) tem no aeroporto e é pouca a atenção dada aos recém-chegados com conexões muito próximas do vôo seguinte, revistados de todas as formas até os dentes. Romperam o cadeado da nossa mala de snow e colocaram uma "inspection note" dentro da mala, jeito mais cordial de vasculhar suas coisas que eles conhecem... bem do tipo "Big brother is watching you" do 1984, do George Orwell.

Voltando ao raciocínio...imaginem só a seguinte situação: acompanhada do MEU CARA, num dia ensolarado de segunda, após ter nevado no dia anterior e estar tudo branquinho e macio, o verdadeiro, tão sonhado e incrivelmente prazeroso POWDER-DAY (dia da neve fofa) chega. Acordamos sonhando com o momento de chegar à montanha. Eagle Lodge (estação mais próxima de onde estamos ficando, num apzinho bem maneiro). Brincando de casinha na neve.

Agradecimentos especiais ao nosso camarada Alan Oppenheimer, que mora aqui em Mammoth, que nos fortaleceu em tudo. Valeu parceiro! Seu filho é lindo!

Dá só uma olhada no deleite da galera (nós dois) no meio da neve fofa! Câmera presa no capacete do Bruno. E eu de capacetinho colorido na dianteira.






terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Volta ao mundo aos 30


RIO - DALLAS - LOS ANGELES - MAMMOTH LAKES
(SNOWBOARD LUA DE MEL COM MEU MORENO - 12 DIAS)

NOVA ZELÂNDIA - AUSTRÁLIA - TAILÂNDIA - CAMBOJA - VIETNÃ - INDONÉSIA - ÍNDIA - NEPAL - TIBET (CHINA) - TURQUIA - ESPANHA - PORTUGAL - CASA
(COM A CARA E COM A CORAGEM, COM A AJUDA DE AMIGOS NO CAMINHO - 90 DIAS)